ATA DA TRIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 22.10.1991.
Aos vinte e dois dias do mês de outubro do ano
de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Sétima
Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura,
destinada à entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carlos
Scliar, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 82/90 (Processo
nº 1356/90). Às dezessete horas e vinte e oito minutos, constatada a existência
de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos,
convidando os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades
presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente em exercício
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Vereador Antonio Hohlfeldt, Prefeito
Municipal de Porto Alegre em exercício; Senhora Alzira Severo, Diretora do
IPREMEC, representando o Reitor da Universidade Federal de Santa Maria; Senhor
Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Senhor
Carlos Scliar, Artista Plástico homenageado; Senhor Francisco Medeiros Scliar,
filho do Homenageado; Senhor Carlos Mancuso; Vereador Isaac Ainhorn, Secretário
"ad hoc". Ainda, o Senhor Presidente registrou as presenças, no
Plenário, dos Senhores José Scliar, Beti Mancuso, Wremier Scliar, Maria do
Carmo Paghioli, Cláudio Paghioli, Cristina Morè, João Pedro Morè, Elisabeth
Scliar, Vanessa Scliar, Paulo Gastal, Danúbio Gonçalves, Luís Carlos Petrucci,
Leonor Sonnenreich, Oswaldo Gaidanich e Russi Scliar. Após, o Senhor Presidente
convidou os presentes a, de pé, ouvirem o Hino Nacional, fez pronunciamento
alusivo à solenidade e concedeu a palavra ao Vereador Isaac Ainhorn que, em
nome da Casa, destacou as qualidades pessoais do Homenageado, falando sobre
suas obras e do reconhecimento que as mesmas vem alcançando nacional e
internacionalmente. Lembrou o nome de Henrique Scliar, pai do Senhor Carlos
Scliar. Em prosseguimento, o Senhor Presidente registrou o recebimento de
telegramas relativos ao evento dos Senhores Carlos Bastos, Leonor Scliar
Cabral, Eva Sopher, Jayme Sirotsky e José Carlos Mello D'Ávila. Ainda, concedeu
a palavra ao Vereador Antonio Hohlfeldt, Prefeito Municipal em exercício, que,
como proponente da Homenagem, discorreu sobre o relacionamento pessoal que
mantém com o Homenageado, comentando sua obra e os motivos que o levaram a
propor a presente solenidade. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para,
de pé, assistirem à entrega, pelo Senhor Prefeito Municipal, do Diploma e da
Medalha relativos ao Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carlos Scliar,
concedendo, a seguir, a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título
recebido. Finalizando, o Senhor Presidente comunicou ter sido aprovada pela
Casa a concessão do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Danúbio
Gonçalves; procedeu à entrega de lembrança ao Homenageado; agradeceu a presença
de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às
dezoito horas e vinte e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn,
Secretário "ad hoc". Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário "ad
hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Senhoras e Senhores, damos por aberta essa Sessão Solene.
A Câmara Municipal de Porto Alegre tem a satisfação de se reunir nessa tarde para proceder à entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Carlos Scliar.
Convidamos para compor a Mesa o Exmo
Sr. Ver. Antonio Hohlfeldt, Prefeito Municipal de Porto Alegre em exercício; a
Srª Alzira Severo, Diretora do IPREMEC, representando o Reitor da Universidade
Federal de Santa Maria; o Ilmo Sr. Firmino Cardoso que nesse ato
representa a ARI (Associação Riograndense de Imprensa); Ilmo Sr.
Francisco Medeiros Scliar, filho do homenageado; convidamos, também, para compor a Mesa o Sr. Carlos Mancuso. Como
extensão da Mesa, gostaríamos de mencionar as presenças dos Senhores José
Scliar, Beti Mancuso, Wrenier Scliar, Maria do Carmo Paghioli, que é Presidente
da Galeria de Arte Mosaico; Sr. Cláudio Paghioli, Cristina Morè, João Pedro
Morè, Elisabeth Scliar, Vanessa Scliar, Paulo Gastal, Danúbio Gonçalves, Luís
Carlos Petrucci, Leonor Sonnenreich, Oswaldo Goidanich e Rose Scliar.
Convidamos
aos Senhores para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional.
(O Hino Nacional é executado.)
O SR. PRESIDENTE: Hoje é um dia especial
para a nossa Casa, pois temos a honra de conferir o título de Cidadão de Porto
Alegre a um nome expressivo das artes plásticas, figura de projeção nacional e
internacional e não poderíamos deixar de mencionar que, nesta tarde, o
proponente desta Sessão Ver. Antonio Hohlfeldt assume em exercício as funções
de Prefeito Municipal de Porto Alegre.
Carlos Scliar, gaúcho de Santa Maria, que em sua
trajetória soube aliar talento e a sensibilidade do artista à consciência
política do cidadão na busca da paz e da liberdade recebe o nosso
reconhecimento, tardiamente, a homenagem da cidade de Porto Alegre. Seu
trabalho está espalhado por este mundo afora, mas aqui na Capital ficará
imortalizado com os impressionantes painéis em serigrafia instalados no Salão
Nobre da Prefeitura. Ali, a mão do artista descreveu com maestria a história da
Cidade, suas tradições e desenvolvimento.
Portanto, a minha saudação especial, em nome da
Mesa Diretora da Câmara Municipal, Sr. Carlos Scliar e o reconhecimento oficial
ao seu ilustre filho adotivo.
De imediato o Ver. Isaac Ainhorn falará em nome
dos 33 Vereadores, ou seja de todas as Bancadas, nesta homenagem. (Palmas.)
O SR. ISAAC AINHORN: Senhores e Senhoras,
esta realmente é uma sessão altamente diferenciada e muito atípica. E neste
momento eu falo exatamente em nome dos 33 Vereadores da Casa, na medida em que
a tradição é de que aquelas Bancadas que não falam, fale por elas o autor da
homenagem, neste momento no entanto, estou falando pelo conjunto da Casa. Eu
falaria pelo meu Partido, Partido Democrático Trabalhista, mas por deferência
especial da Mesa e em função das peculiaridades de estarmos com o Prefeito da
cidade de Porto Alegre, o Presidente da Casa, eu estou falando pelo conjunto
dos 33 Vereadores, que é uma tarefa evidentemente muito difícil nesse momento,
sobretudo considerando o homenageado dessa tarde.
A iniciativa foi do Ver. Antonio Hohlfeldt, que
tem sido um Vereador que praticamente, no curso de dez anos de mandato, ele
iniciou como Vereador no ano de 1982, tem-se caracterizado por prestar esse
tipo de homenagem a pessoas ligadas ao universo dos intelectuais do nosso
Estado.
Aqui está o Gastal, que já foi agraciado com
homenagem desta Casa, nós temos o Moacir Scliar, que é primo do homenageado
neste momento, também já foi agraciado com homenagem nesta Casa, e uma figura
que por aqui passou, uma figura extraordinária que também a homenagem partiu do
Ver. Antonio Hohlfeldt, que conferiu o título de outorga da cidadania
porto-alegrense ao escritor Herbert Car, e dentro dessa mesma linhagem de
homenagens de homens que a cidade de Porto Alegre orgulha-se em recebê-los, é
dentro desta plêiade, que hoje esta Casa, talvez e a cidade de Porto Alegre,
mais está se homenageando do que prestando uma homenagem na medida em que o
Carlos é uma figura que enche de orgulho a todos nós, porto-alegrenses e gaúchos,
pela sua dimensão, pelo seu trabalho, pela grandeza do seu trabalho, em nível
nacional e internacional.
Quero, hoje, dizer que Carlos é uma figura de
expressão nacional e de expressão internacional. Aonde se vai, nos meios
intelectuais, no meio das artes plásticas: Paris, Nova Iorque, Jerusalém, no
museu, nos orgulhamos de encontrar sua obra. Mas eu gostaria, também, meu caro
Presidente, meu caro Prefeito Antonio Hohlfeldt, de registrar uma peculiaridade
que a mim diz muito, exatamente, do país de onde se originou o Carlos e alguns
desses homenageados, desses imigrantes ou filhos desses imigrantes que para cá
acorreram no início do século, vítimas da discriminação, vítimas da opressão,
dos "progroms" que ocorriam na Europa Oriental. E a família do
Carlos, imigrante judeu, veio lá da Bessarábia.
Eu me recordo de uma coisa que me marcou muito,
porque jamais eu imaginaria na minha vida que nós, um dia, estaríamos aqui,
tantos anos depois, prestando uma homenagem ao Carlos, de Cidadão de Porto
Alegre, título que, de fato, ele já tinha conquistado; mas título que, hoje, a
cidade de Porto Alegre, através da sua representação política lhe está
outorgando neste momento, quando não deixávamos, lá pelos idos de 1950, quando
corríamos pela casa do seu Henrique e da dona Sara, e não deixávamos, na sua
tranqüilidade, trabalhar, pintar seus quadros; e ele tinha que emigrar lá para
a Vila Santa Cecília, em Viamão, para continuar o seu trabalho. A gente subia
as escadas da sua casa, na Osvaldo Aranha, e víamos aqueles maravilhosos
quadros, aqueles olhos, aquela expressão, as cores escuras, do sofrimento dos
filhos judeus, e, também, da sua natureza morta.
É esse Carlos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
que hoje trago à lembrança aqui, neste momento em que nós estamos prestando uma
homenagem em que a cidade de Porto Alegre outorga a ele a cidadania plena, de
direito, de Porto Alegre.
É um momento para todos nós, acredito, de grande
importância e emoção. O Carlos vem vindo, não parou no Rio de Janeiro, de uma
viagem ao exterior e, evidentemente, aqui se faz presente para receber o
carinho desta homenagem que a cidade de Porto Alegre, neste momento, lhe
proporciona.
Mas, ao lado do Carlos, pintor, está essa figura
que nós conhecemos como artista de dimensões nacionais e internacionais, mas
também nós vemos aquela figura de homem que sempre esteve acompanhando e
presente, sempre, nas lutas do seu povo, do povo brasileiro, nas suas
reivindicações, nas lutas nacionais e internacionais. Lembro-me, ainda, quando
menino, quando folheava as revistas que tão bem colocava os anseios de vocês,
através da sua arte, colaborando na Revista Horizonte, era a contribuição que
dava, dizendo-se presente sempre em todos os movimentos em defesa da paz maior,
do entendimento entre os povos. Aqui no nosso País o Carlos nunca deixou de
estar presente em todas as manifestações dos intelectuais brasileiros, em
defesa da liberdade, em defesa da democracia.
Evidentemente, nessa homenagem, não está presente
outra figura que esse ano foi homenageada pela Câmara de Vereadores, que é o
Sr. Henrique Scliar, o "tio Henrique", muito querido da nossa cidade.
É uma falta muito grande a todos nós, por tudo aquilo que foi, de visionário,
de sonhador e, hoje, quando prestamos essa homenagem à figura de Carlos Scliar,
evocamos à memória o “Seu Henrique”, nos lembramos dele, da sua figura
passeando pelo Bom Fim. Aquele mundo, o universo daquele bairro tinha um
profundo cheiro de humanidade, cheiro de gente, cheiro de ação. Mas, ao lado
desse cheiro de luta, de trabalho, de ação, existia um universo intelectual e
esse universo intelectual do Bom Fim, da Rua Osvaldo Aranha, centrava-se todo
na casa do Sr. Henrique, era ali que se centrava toda uma plêiade de
intelectuais que iam ao encontro do Sr. Henrique, ao encontro do Carlos para
visitá-los, era um verdadeiro centro de efervescência cultural, intelectual e,
também, por que não dizer, um ponto de efervescência política da Cidade, a casa
do Sr. Henrique que, por muitas vezes, teve que sair da Cidade, em vários
momentos difíceis se esconder, se asilar em outros países em função das
perseguições políticas.
Tudo isso faz parte desse universo que fez com
que o Carlos crescesse exprimindo toda a sua inquietude, toda a sua vida nas
suas obras. Mas, como eu disse, ao lado da sua arte, do seu trabalho, sempre
teve muito presente os sofrimentos e o drama do nosso povo e isso sempre
expressou tanto na sua obra como na sua ação do dia a dia. Ele sempre esteve
junto, ao lado dos intelectuais e dos políticos que buscavam melhores condições
de vida para o nosso povo e, também, nos momentos de excepcionalidade que,
infelizmente, em nosso país foram muitos, na luta pelo restabelecimento da
democracia e do estado de direito.
Meu caro homenageado desta tarde, a cidade de
Porto Alegre, hoje, sente-se orgulhosa em outorgar-te esse título de Cidadão de
Porto Alegre que, de fato, já era um título que há muito tinhas conquistado em
tua passagem por esta Capital. De Santa Maria a Porto Alegre, ao Rio de Janeiro
e ao mundo, hoje retornas para aqui receber esta homenagem da tua Cidade e
tenho a certeza de que a tua produção intelectual, a tua produção cultural, o
teu trabalho, a tua mente, a tua cabeça estará sempre, não só ao lado da tua
arte, da tua contribuição intelectual, mas estará, também, junto com as
inquietações e as reivindicações do nosso povo e da nossa gente. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar
enviados aqui para a Câmara Municipal, telegramas, cumprimentando o nosso
homenageado e expondo da impossibilidade da presença. A Srª Leonor Scliar
Cabral, que é Presidente da Sociedade Internacional de Psicolingüística
Aplicada; Srª Eva Sopher, Presidente da Fundação do Theatro São Pedro; Sr.
Carlos Bastos, Secretário Extraordinário para Assuntos de Comunicação Social do
Estado; Sr. Jayme Sirostsky, Presidente do Conselho Administrativo da RBS; Sr.
José Carlos Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da EPATUR. Passamos as mãos do
homenageado esses telegramas.
Concedemos a palavra ao Prefeito Antonio Hohlfeldt.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: (Lê composição
da Mesa.) Podia optar entre um discurso mais formal e um discurso que fosse de
uma certa maneira a continuação de dezenas de diálogos que tenho tido a
oportunidade de desenvolver com Scliar ao longo de pouco mais de vinte anos de
jornalismo que tenho nessa Cidade e onde de uma certa maneira pontuei cada ano,
pelo menos, uma entrevista, um jantar ou uma longa conversa com Carlos Scliar,
e onde com certeza saí um pouquinho mais enriquecido.
Foi essa opção que fiz. Em primeiro lugar porque
não tenho dúvida nenhuma de que este ato é antes de tudo uma festa, um encontro
entre amigos, um encontro de famílias, não apenas de família de sangue, da
família Scliar, se espraia por outros contatos mais, mas sobretudo uma família
que é aquele conjunto de pessoas, que por incrível que pareça, num País como o
Brasil, ainda acreditam e lutam pela cultura.
Portanto, depois que esta Casa já criou em anos
pretéritos um Prêmio Érico Veríssimo para homenagear aqueles que se destacam na
área da literatura, criou um prêmio Qorpo Santo para homenagear aqueles que se
destacam na área de teatro e assim por diante, depois que esta Casa por
incrível que pareça ressuscitou e conseguiu ressuscitar o seu Salão de Artes
Plásticas, que vem lá dos anos de 1950, e que é bianual, e que tem o dedo do
Danúbio Gonçalves nesta história, e da Associação Chico Lisboa. E depois que
esta Casa conseguiu levar adiante o patrocínio informal da Mostra Internacional
de Cinema, sem dúvida faltava alguma coisa. Era exatamente esta homenagem a
Carlos Scliar.
O Ver. Isaac Ainhorn lembrou bem a mobilidade
deste cidadão, aliás típica, exatamente, daquela descendência da qual vem o
Scliar, e de todos nós que temos uma pontinha de judeu na nossa história que
vem lá do Velho Testamento. Temos toda uma tradição de mobilidade que o Scliar
faz questão de exercer com muita paciência. De Santa Maria a Porto Alegre, de
Porto Alegre para a FEB, da FEB para o Rio, do Rio para o mundo, de vez em
quando a Porto Alegre, umas passagens por Cabo Frio, Ouro Preto, passagens de
retorno a Bagé, Santa Maria, de novo Rio de Janeiro e por aí afora.
Isto para não falar de galerias de arte, de
casas, de ateliers, de amigos que ele vai construindo, criando em cada
lugar, que são também viagens, deslocamentos, a capacidade fantástica do que
Carlos Scliar consegue desenvolver.
O que estamos homenageando, Carlos, é aquele cidadão capaz de recriar a vida daqueles casarios históricos de Ouro Preto e de tantas outras cidades brasileiras que muitas vezes no afã de um falso progresso e desenvolvimentismo acaba deixando de existir e apenas nas tuas telas permanece.
O que estamos homenageando, hoje, Scliar, é o teu
mergulho fundo nas águas do Cabo Frio, do Guaíba, de tantas outras praias
distantes e perto, algumas conhecidas, outras profundamente desconhecidas de
nós mesmos e de onde tu recuperasses barcos, águas, e, sobretudo, colinas e
horizontes de esperança. Mas, sobretudo, Scliar, queremos te homenagear porque
foste capaz de tirar das sombras de casarões antigos cores e revelações de nós
mesmos, e isso, me parece, que é a grande função do artista que tu
desempenhaste. Tu foste, sem dúvida nenhuma, Carlos Scliar, nesses últimos 50
anos, simultaneamente, uma síntese e uma antítese. Tu foste a síntese do que
vinha se fazendo, reunindo o que de melhor se havia produzido e foste,
simultaneamente, aliás como toda a família Scliar, definitivamente, um grande
provocador, um grande subversivo no sentido mais literal da palavra, de quebrar
convenções, estabelecer novas linhas, de dar os passos à frente e, eu não diria
de empurrar, mas de puxar contigo todos os demais.
Eu tenho certeza de que o Chico sabe muito bem do
que estou falando porque acho que todos nós que temos um pouco menos da tua
idade e convivemos contigo, somos um pouco aquilo que o Chico é, hoje, formal,
oficial, em nome de todos nós; somos todos, um pouquinho, teus filhos. Teus
filhos nesse diálogo, nesse encontro, nesse aprendizado permanente, cinqüenta
anos que passaste pela Revista do Globo, pelas experiências fantásticas da
Revista Senhor, o Gastal que está aqui, o Goidanich que está aqui, por essa
coisa incrível que aconteceu nesse Estado, chamado Caderno de Sábado,
suplemento do Correio do Povo, e, sobretudo, por essa tua capacidade de
diálogo permanente.
Vejo aqui um cidadão que não via há muitos anos
que é o Luiz Carlos Petrucci. O Petrucci foi a minha primeira entrevista de
artes plásticas que fiz na minha vida, borrado de medo. O Gastal que era o meu
chefe, mandou entrevistar o homem, e eu, pomba, não manjo nada de artes
plásticas e agora o que faço. Bom, vai perguntando, vai anotando. Bom, anotar
eu sabia, perguntar razoavelmente, a entrevista andou e o Petrucci me ensinou
algumas coisas básicas de pintura que depois fui pegando do Scliar, do próprio
Danúbio, ainda no tempo do nosso Atelier Livre, quando o Danúbio respondia por
ele, enfim, de tantos companheiros de galerias.
E, vejo, aqui, um amigo muito especial, também,
que é o Renato Rosa, que teve responsabilidade em alguns dos melhores momentos
de galeria de arte dessa Cidade e que ainda hoje briga para continuar tendo uma
galeria séria e que se junta com outros companheiros como é a Leonor que tem
conseguido fazer, por exemplo, que uma galeria que tradicionalmente se
preocuparia, talvez em lucro dentro da perspectiva de mercado consiga fazer
algumas exposições profundamente interessantes, como foi recentemente, a de
Bruno Giorgi, para todos nós matarmos saudades e dizermos, depois, “bom, Porto
Alegre, bem ou mal entra num roteiro importante de apreciação de grandes
exposições”.
Queremos homenagear tudo aquilo que tu, com teus
companheiros fizeste na FEPE, no Clube de Gravura, no Clube de Bagé. A cada
momento em que houve uma luta neste País, o Scliar botou o dedo, botou o braço,
a mão, o cotovelo, a cabeça, a alma e lá estava presente. Recentemente, a
defesa de Ouro Preto, com o que o Scliar teve muito a ver no fato de ainda não
se ter quebrado e derrubado de vez aquela Cidade; Scliar teve muito a ver, no
ano passado, com a briga por São Miguel e a possibilidade de, na Justiça,
garantirmos manutenção do trabalho de recuperação de São Miguel.
Há pouco, perguntava-me a jornalista: “Por que
homenagear Carlos Scliar em Porto Alegre?” Não tive dúvidas em responder:
“Porque ninguém é mais cidadão de Porto Alegre do que esse cidadão”. Por mais
distante em que Scliar estivesse, ele sempre esteve presente em tudo que
aconteceu aqui. Na velha luta do Theatro São Pedro, quando o Prefeito Villela
decidiu marcar o prédio da Prefeitura com imagens da Cidade, lá estava Scliar,
lá estão os seus painéis; quando esta Cidade, por iniciativa de um de seus
Vereadores, o Ver. Vieira da Cunha, resolveu homenagear outra figura ilustre,
Luiz Carlos Prestes, lá estava Scliar preparando-se para fazer os painéis, colaborando
com Niemayer no projeto básico do memorial. Então, ninguém mais do que qualquer
outro, sem comparação, sem demérito aos outros, é, efetivamente, um cidadão de
Porto Alegre. Como disse o Ver. Isaac Ainhorn: faltava oficializar. Foi uma
coincidência, de uma conversa rápida, por telefone, com Scliar, e acertamos
essa formalização.
Por que essa formalização leva-me a um pequeno
retrato teu, quero fixar uma imagem: a de uma foto, de Bagé, em 1976, onde
estás de camiseta cava, chinelos e, evidentemente, com os seus óculos. Essa me
parece a imagem básica do artista Carlos Scliar, o homem que transforma
inspiração em um trabalho. É talvez o artista, dos que conheço, que tem a maior
disciplina possível, tem a maior seriedade possível, é um chato, literalmente
falando. Felizmente. Que olha o detalhe da cor, da justa-posição de uma imagem,
se o acabamento de uma lito está perfeita, que cuida também do detalhe de uma
assinatura, que discute tudo, mas com o qual temos absoluta certeza de que uma
viagem iniciada ela chega ao seu final exatamente naquele ponto previsto.
Eu tive inúmeras experiências, tive esta imensa
alegria de ter inúmeras experiências de trabalho com o Scliar, a principal
exatamente aquele belo trabalho sobre o grupo de Bagé de 1976, quando viajamos
feitos loucos por aí, agüentando um verão de campanha do RGS, mas que,
realmente, valeu para recuperarmos a memória de uma série de coisas, sobretudo
para atualizarmos novas gerações sobre aquilo que havíamos feito no final dos
anos 1940 e decorrer dos anos 1950. Eu poderia terminar esta oração, que eu
considero como um diálogo com o Scliar, como uma provação, porque o Scliar
gosta de provocações e eu também gosto de provocações. Provocação de que
aparentemente se olha a obra do Scliar e faltaria exatamente esta raiz, Isaac,
da cultura judaica na pintura do Scliar. Mas como é uma provocação eu vou dar
uma resposta. Não, não falta. Na verdade esta síntese que o Scliar faz desta
pintura que é, às vezes, extremamente, abstrata e outras vezes tão concreta na
paisagem que fixa, de uma imagem que, às vezes, é tão bucólica numa marinha ou
tão longinquamente rememorativa quem sabe lá de um deserto do Sinai, de tantas
e tantas gerações passadas e às vezes o concreto, o cimento das grandes
cidades, como, aliás os painéis lá da Prefeitura indicam. Eu acho que esta é a
tua marca judaica, Scliar, tu consegues exatamente, como o judeu de um modo
geral faz, esta síntese. Essas coisas às vezes tão contrárias, tão díspares, às
vezes, tão contraditórias, até ferindo em muitos momentos e isto porque acima
de tudo a tua grande qualidade - e é por isso que hoje te homenageamos - é ser
cidadão, é ter absoluta consciência de que não te resolver sozinho,
isoladamente se não estiver no contexto coletivo.
É por isso que, além da alegria de poder ter sido
eu Vereador desta cidade, eventualmente, na presidência desta Casa e, por
absoluto acaso, não programado, tendo assumido hoje a Prefeitura, na
substituição do Prefeito Olívio Dutra, que me pediu que transmitisse um imenso
abraço, porque ele foi a Brasília ver se arranja dinheiro com o nosso Ministro
do Planejamento, o que é uma tarefa difícil, juntando estas três vantagens,
quero em nome desta Casa, porque em nome dos Vereadores já falou o Ver. Isaac
Ainhorn e eu não gostaria de retirar dele, em hipótese alguma, este privilégio,
porque nós dois, um alemão e um judeu, fazemos um contraponto excelente, porque
temos um trabalho de respeito, um para com o outro, coisa que quero sempre
destacar, quero sempre reconhecer como um trabalho do cidadão. Mas acho que
ninguém melhor que o Legislativo para reconhecer isso. Legislativo onde
reunimos todas as tendências, todos os interesses, todas as posições
ideológicas, mas onde, sobretudo, reunimos a cidade de Porto Alegre, esta
cidade que hoje te homenageia, através deste título. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver.
Antonio Hohlfeldt para fazer a entrega do diploma ao nosso homenageado.
(O Sr. Antonio Hohlfeldt faz a entrega do diploma.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Prefeito
Antonio Hohlfeldt para que faça a entrega da medalha ao homenageado.
(O Sr. Antonio Hohlfeldt faz a entrega da medalha.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o
Sr. Carlos Scliar.
O SR. CARLOS SCLIAR: Eu estou muito
comovido e há pouco eu dizia que de tal maneira eu me sinto cidadão dessa
cidade, aqui tendo chegado com poucos meses e aqui tendo vivido intensamente
meus primeiros dezoito anos e de uma certa maneira como disse o Antonio há
pouco, do nosso amigo que me homenageou dizendo de uma certa maneira eu já era
cidadão e assim eu sempre me considerei.
Eu devo dizer a vocês que me considero de fato um
cidadão brasileiro e um cidadão do mundo também, porque na verdade se eu
deveria prestar uma homenagem, e eu quero depois indicar algumas pessoas que
acho que são importantes na minha formação, eu acho que eu devo tudo a todos
que me precederam e acho que não há uma pessoa sequer tendo feito algum esforço
no sentido de trazer a sua visão do mundo, a sua contribuição, o seu respeito
aos homens, que não tenha de uma certa maneira mexido comigo. É claro que aí eu
teria que falar em meus pais, meus primos, meus tios, todos eles foram pessoas
importantíssimas, foi nesse meio que eu vivi, eles me formaram, o meu primo Maurício,
por exemplo, foi uma pessoa que me pôs em contato com alguém que foi muito
importante para mim que é o Nelson Boeira, e me pôs em contato com o pessoal da
Globo, e aí eu encontrei vários amigos em particular o Gastão, que está
ausente, eu tinha que pensar no Justino Martins, eu tinha que pensar no Érico,
no Pedro Baine, é claro que eu já estou falando assim quase que de uma
pré-história no sentido daquela minha formação da década de 30, mas todos,
todos foram essenciais para mim.
Acho que o Antonio coloca com muita justeza uma
coisa que eu não acho que é necessariamente um elogio, acho que é um estado de
ser. Eu sou um homem que ama os homens, que ama as pessoas que amam a
humanidade. Acho que a nossa contribuição maior é na medida que a gente saiba
que pode haver uma esperança. Está difícil, mas em todo caso eu acho que tem
que ser teimoso e acreditar nas coisas. Não falo só no contexto nacional, falo
mesmo no contexto internacional que eu tendo uma posição política de esquerda,
bem definida. Penso que o que está acontecendo no mundo, hoje, inclusive no
Leste, não é um sinal de derrocada, mas sim um sinal de amadurecimento. As
idéias estão aí. As idéias, por melhores que pareçam, em vez de significarem,
digamos, a possibilidade de desenvolvimento, significam uma prisão, a falta de
possibilidade de desenvolvimento, passam a ser negativas. Acho que quando os
povos começam a perceber que são mais significantes do que as idéias, do que
fábulas que possam ser conhecidas na teoria, mas que na prática não correspondem
a um sinal de amadurecimento, quando começam a buscar uma solução melhor o que
acontece, hoje, no mundo é uma tremenda crise do sistema, mas não é uma crise
de vontade de se envolver, mas é um sinal de que estamos vivos e que passamos a
acreditar num futuro que não seja, necessariamente, a bomba atômica.
Não posso usar o microfone sem fazer o meu
proselitismo, que é acreditar na paz como uma força fundamental, mas que não
significa não brigar. E aí falo com muito conhecimento, porque há sessenta
anos, desde os meus onze, doze anos colaborando na imprensa, querendo fazer
literatura que também ilustrava, desde 1931/1932 conheço bem o setor com o qual
trabalho, e aí queria prestar uma homenagem ao João Falio, Presidente da
Francisco Lisboa, que fundamos em 1937, quando conseguimos juntar artistas de
todas as tendências, e até hoje essa entidade existe, e é a associação de
artistas plásticos mais antiga que existe em nosso país.
Acho que todo o trabalho que se faz aqui sobre
gravura, eu não poderia, nunca, deixar de dar a importância fundamental que tem
o Vasco Prado, o Petrúcio, o Danúbio, o Glauco, com a contribuição de Bagé, com
a Helena, o Plínio Bernhard, todo um grupo de pessoas, nós conseguimos
realmente fazer um trabalho que só valeu, porque, primeiro, nós estávamos
defendendo uma coisa que nós acreditávamos. E parecia que não, mas, na verdade,
é que significava uma velha briga nossa em fazer as pessoas perceberem que o
nosso trabalho era importante. Claro que nós achávamos que era o mais importante,
mas pobre de nós se não acreditássemos. E achamos que através da gravura nós
podíamos a partir daquele momento aqui no Brasil pelo menos dizer que nós
tivemos um papel importante na medida em que o Grupo de Porto Alegre e de Bagé,
criamos os de Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Pernambuco, depois Uruguai,
Argentina, Chile e Portugal.
Então nós conseguimos fazer um trabalho que não
nascia do acaso, nascia de uma experiência que trazia de um período europeu,
onde em contato com um artista fantástico mexicano, Leopoldo Mendez, uma
experiência do talher de gráfica popular, nos alimentou muito. E nós nunca
escondemos todas as nossa origens, as nossas origens não só na gravura
mexicana, mas na gravura popular, na gravura chinesa... Nós expúnhamos esses trabalhos.
Fizemos exposição, várias, mostrando desde a gravura chamada a mais antiga que
se conhece, a técnica “Borchoir”, que nós expusemos na Rua dos Andradas, lá em
1954, mostrando desde a história da gravura até chegar à nossa gravura. Claro
que se estava dando exatamente uma raiz que era a história da gravura, uma
espécie de arte democrática, levar a arte para o maior número possível de
pessoas. E a gravura é um meio próprio para isso. Era a gravura que permitia
que um maior número de pessoas tivessem mais trabalhos originais.
E não subestimemos o trabalho da gravura, tão só.
Vendo o lado político, não.
Este era o lado fundamental porque eram as nossas
idéias que estávamos lançando. Mas por que é que nós queríamos passar as nossa
idéias, a nossa concepção, inclusive de arte? Porque, na verdade, eu estou
convencido que toda pessoa tem um artista em si, que o papel da obra de arte,
seja uma gravura, uma obra literária, um filme, uma peça de teatro, desperta
nas pessoas, lá dentro, e que ainda não tinha trabalhado este lado. E nós
despertamos este lado criativo. Citei uma série de nomes e não poderia deixar
de citar aquele que eu acho fundamental na arte brasileira.
Mas, temos tantos artistas, que não quero cometer
injustiça. Vou falar de dois amigos pessoais Glauco, Edwaldo Rodrigues
Bianchetti que, junto com o Danúbio brigaram lá em Bagé, conseguiram fazer uma
galeria, com um trabalho prodigioso. O Danúbio, já disse várias vezes, e digo
de novo com o microfone gravando, que fez talvez uma das séries mais importantes
da história da gravura brasileira. E só ter feito esta série, dentro do campo
do estudo de gravuras já valia a sua existência no campo da gravura.
Quero com este apanhado que faço dizer que me
senti gaúcho de fato foi quando fui para a Europa em 1947, certo que ia ficar
morando lá. Além de ser trabalhador era muito amigo de um casal. Ela de origem
portuguesa e ele um judeu húngaro. Durante sete anos convivi com eles, ela hoje
já com 83 ou 84 anos, talvez a maior e mais importante artista viva, que
conheci na minha vida, e que me fez ir para a Europa, com uma frase muito
simples em 1946, quando se preparava para voltar à França. Ela disse: “Scliar,
para viver mal de pintura no Rio, você não acha melhor viver em Paris?”
Daí, em conversa com o meu pai, minha mãe havia
falecido enquanto eu estava na Itália, no fim de 1944, o que eu poderia
mobilizar do que ele estava gerindo, sem prejudicá-lo? Ele me disse: “Três
contos de réis”. Eu perguntei: “Com três contos dá para sobreviver em Paris?”
Ele respondeu que “o salário-mínimo lá é um conto de réis. Então, você vai
estar muito melhor, vai ter três salários de um operário.”
Em 1947, de terceira classe, embarcava com Vieira
da Silva, quatro dias depois para a França. Embarcavam de terceira classe, e,
há três anos atrás, em 1988, essa Senhora viajava no Brasil em terceira classe.
Era homenageada numa das exposições mais bonitas que já vi com a presença de
Miterrand e Mário Soares. Eu poderia citar o Vinícius, o já chamado Rubem
Braga, são todos meus padrinhos, meus amigos, mas na verdade só posso citar,
como elemento fundamental, o meu pai.
Eu acho que tudo que vocês disserem ou fizerem a
meu respeito passa pela figura de meu pai e aí não poderia deixar de citar que
se fui na família a ovelha negra, aquele primeiro que se recusou a pegar um
título de doutor e que queria ser pintor, e que dois anos seguidos perdi o 3º
ginasial porque achava que não era preciso, porque eu queria fazer pintura e
para que precisaria do ginásio. O meu pai me prometeu uma longa viagem, eu
escolheria o destino se terminasse pelo menos o ginásio, aí eu terminei o
ginásio e não escolhi Buenos Aires como ele esperava, escolhi o Rio porque era
mais longe e eu queria um lugar onde pudesse me afirmar. E, lá, exatamente
Portinari de uma certa maneira me convenceu, me fazendo, inclusive, numa
análise, de um trabalho que ele me mostrou, de uns álbuns da Escola de Paris,
quando me perguntou: “Você quer ser ilustrador ou quer ser pintor?” Eu
respondi: “Eu quero ser pintor.” Então não é nada disso que você está fazendo e
me mostrou uns álbuns, e me mostrou uns quadros. Saiu para o trabalho do
Ministério de Cultura onde estava fazendo os painéis do Ministério, me deixou
na casa dele dizendo à Maria para às quatro dar um café para ele. É o lanche do
dia que se tomava à tarde e deixa esse rapaz aí vendo o tempo que ele quiser.
Eu saí às cinco e meia, seis horas com vergonha
de que ele me encontrasse quando ele voltasse na casa dele, fui para o meu
hotel e rasquei todos os meus trabalhos porque não era nada daquilo que eu
queria. Entrei numa crise de tal ordem e tendo visto o que eu vi que quando o
meu pai me mandou um telegrama para que eu voltasse porque tinha me inscrito
para eu ser engenheiro, já que eu queria ser pintor tinha que fazer pelo menos
engenharia. Eu voltei e segui esse curso seis meses, felizmente até a chegada
do Rubem Braga que veio contratado pela “Folha da Tarde” para trabalhar aqui. A
presença dele e de sua esposa 'refizeram' minha cabeça e pensei: “Vou largar o
curso, amanhã, no final do ano vou trabalhar no Rio, com Portinari”. E
enveredei por um caminho que acabou produzindo.
À Esther Scliar, que conseguiu produzir a sua
musa maravilhosa; ao meu irmão Salomão, que realizou seu cinema “Doido de
pedra”, o Moacir, com sua literatura internacional. Então, sinto-me muito bem
sendo ponto de partida de todos esses indóceis da família Scliar.
Devo demais, de tudo que fiz, tudo mesmo, a
pessoas como Gastal, Goidanich, que deram sua total cobertura. Acho que nem a
TV Globo dava suas páginas e páginas para tudo que fazíamos. Sem esse apoio o
nosso trabalho não teria tido sucesso.
Quando digo que “devo tudo a todos”, quero que
percebam que me sinto muito à vontade e muito comovido em estar reunido aqui
com minha família - e minha família não precisa ser Scliar - são todas as
pessoas, todos os humanos que acreditam no homem.
Fico muito à vontade, e digo para vocês que o
maior risco por que passam é de me convidarem a falar diante de um microfone.
Por isso, paro aqui. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Informamos aos
presentes que recentemente esta Casa aprovou a concessão do título de Cidadão
de Porto Alegre ao Sr. Danilo Gonçalves, para o que estamos aguardando uma data
para a realização da Sessão Solene para outorga.
Outrossim, registramos que a CMPA, nesta
oportunidade, oferece uma xícara para cafezinho, onde temos o brazão do
Município de Porto Alegre. Na condição de Presidente da CMPA, passo este brinde
ao nosso Homenageado, como uma lembrança desta Casa.
(O homenageado recebe das mãos do Sr. Presidente o símbolo.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Ilustres
componentes da Mesa, Ver. Isaac Ainhorn, senhoras e senhores aqui presentes,
mais uma vez, os meus cumprimentos ao homenageado, registrando a presença de
todos.
Nada mais havendo a tratar, convocamos os Srs.
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h26min.)
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